Público, Ípsilon, Não Nobel - À Beira do Abismo, Raymond Chandler

A pedido de muitas famílias, aqui deixo o texto que saiu hoje no Ípsilon e me foi pedido para promover o livro À Beira do Abismo de Raymond Chandler.

«Homens mortos pesam mais do que corações partidos
A escrita de Raymond Chandler é demasiado rica e entusiasmante para que a possamos dispensar independentemente das histórias interessantes que nos conta. Usa uma linguagem fresca, fluida, cintilante, que nos põe facilmente nos ambientes da trama, de frente e até dentro dos personagens; imagens simples mas tão eficazes, que se encaixam com toda a naturalidade no que de melhor a literatura nos pode oferecer: um tapete voador para a imaginação.

À Beira do Abismo foi publicado em 1939, com a Grande Depressão a fazer parte do passado na economia americana, mas não na mente das pessoas e nas palavras dos escritores. Era o tempo em que todos livremente fumavam e acendiam fósforos na unha com facilidade. E se hoje a primeira está à beira de figurar no Código Penal, a segunda deixa de fazer sentido por falta de objecto. Porém, o intemporal perpassa a obra, como esta passagem bem o documenta: «…pequenos marginais que cresceram em bairros miseráveis, apanhados mal puseram o pé em falso pela primeira vez e a quem nunca mais se deu uma oportunidade.» Felizmente, nada tem a ver connosco.

Chandler rondava os 50 quando deu vida a um personagem com 33 e logo o pôs a dizer que era solteiro por não gostar «de mulheres de polícias». O herói viria a ter outras seis aventuras nos anos seguintes e, por força do cinema tornar-se-ia mais famoso do que o seu criador. É o detective Philip Marlowe, um ex-polícia, duro, cínico, que por ser «insubordinado», teve de abandonar o serviço público e passar a trabalhar por conta própria. É ele que o diz «Não jogo Mikado. No meu jogo há sempre uma grande dose de bluff.» Guia-se por uma ética à prova de qualquer tentação. Um super herói. Fazendo minha uma frase de um dos personagens «Sei por experiência que as histórias policiais são sujas.» Esta não foge à regra, nem podia, é da natureza humana que trata.»

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