16 de Março - o ensaio geral para o 25 de Abril

Passei hoje por aqui e lembrei-me. Aqui funcionava o antigo Regimento de Infantaria 5, nas Caldas da Rainha. Na madrugada de 16 de Março de 1974, completaram-se hoje 39 anos, daqui saiu uma coluna, chefiada pelo capitão Varela, contando que muitas outras o fizessem, e juntas conseguissem pôr fim ao Estado Novo. Já se aproximavam da capital quando se aperceberam que estavam sozinhos e voltaram para trás, acabando por, nessa tarde, se render às forças afectas ao regime, que entretanto cercaram o quartel. Feitas as contas, desta acção resultou a prisão de cerca de 200 militares de várias patentes, sendo que, entre os oficias, praticamente toda a linha conotada com o general Spínola ficou neutralizada. 
Alguns destacados elementos do MFA, disseram que foram os spinolistas a querer tomar a dianteira do processo conspirativo que estava em marcha adiantada; o general Spínola disse que o 16 de Março não passou de uma reacção «dos seus rapazes» a uma provocação dos comunistas, para que, ao serem presos, deixassem o caminho aberto para que a esquerda mais radical tomasse conta do golpe, como, em sua opinião, veio a acontecer; para Marcello Caetano não passou de uma leviandade de um reduzido grupo de jovens militares. Para Vítor Alves, foi uma acção desgarrada, «peitos que palpitaram», motivada pela demissão dois dias antes do general Spínola do cargo de vice-Chefe de EMGFA, por se ter solidarizado com o seu superior hierárquico, Costa Gomes, e não ter comparecido ao beija-mão exigido por Caetano, na sequência do turbilhão que representou a publicação de «Portugal e o Futuro», da autoria do ex-governador da Guiné. 
Fosse o que fosse, as prisões verificadas no 16 de Março e o perigo que poderia representar para o MFA clandestino, fizeram acelerar o golpe, que estava já na mente de todos quantos se continuavam a reunir para melhor prepararem o dia «claro e limpo.» 
Uns dias após o 16 de Março, a 24, na casa do capitão Candeias Valente, em Oeiras, ocorreu a última reunião da Coordenadora do MFA na clandestinidade. Ali se balizou o dia em que devia ocorrer o golpe, e foram escolhidos os líderes de todo o processo: Vítor Alves na acção política, para conseguir burilar o programa e nele congregar os camaradas, e Otelo na acção militar. Faltava então um mês para a «grande bebedeira colectiva», como alguém chamou ao efeito que o 25 de Abril teve nos portugueses.
39 anos depois, quase que nos resta lembrar a «Grândola...», as conquistas então conseguidas, que entretanto se esvaem, e a alegria que a todo o povo tocou. Talvez umas e outras sejam o alento necessário para que o grito de contestação, que esta classe política que nos desgoverna merece ouvir, seja igualmente colectivo e assim, finalmente, seja ouvido.      

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