Muito abandonado tens andado, blogue amigo

Muito abandonado tens andado, blogue amigo. Mas é assim, já o devias saber, a vida não para; coisas novas surgem todos os dias e umas prendem-nos mais do que outras e neste caso, houve aqui, reconheço, uma troca directa pelo Facebook. Não te sintas diminuído, mas a interacção que este permite, deixou-te à margem, deixando-me à margem de reflexões mais profundas que só tu permites, a que aquele é avesso e de que tenho saudades.
Houve outras razões que aqui não vieram parar, ou talvez viessem mas só de viés. Desde há mais de um ano tenho vindo a escrever para uma nova agência de notícias portuguesa, a PINN (Portuguese Independent News Network) e para o jornal da comunidade de emigrantes em Zurique e, uma e outro, sempre requerem um pouco da nossa atenção, e tudo se traduz em tempo - a única coisa que não se compra. A  juntar a isso, que não é pouco, há uns anos, meti-me num projecto com alguma grandeza, em termos do trabalho que exige e dos objectivos a alcançar: dar a conhecer aos portugueses de hoje quem foi o coronel Vítor Alves - talvez a pessoa mais importante do 25 de Abril.
Desafiaram-me em 2010 para fazer a sua biografia. Foi a Luísa Amaral, e eu aceitei; sempre fora aquela a figura do 25 de Abril com quem mais me identifiquei. Ainda chegámos a ir a casa do coronel falar com ele, numa altura em que já estava bastante doente - morreria poucos meses depois. Saí de lá motivado a lançar-me à obra, mas a verdade é que o trabalho em equipa não funcionou e a ideia adormeceu.
Em 2012, porém, resolvi fazer um mestrado em História, e se o pensei sem ter em mente o tema a desenvolver, quando tomei a decisão de avançar, já não tinha qualquer dúvida: seria a importância de Vítor Alves na instauração da democracia em Portugal. Começou em 2012, mas só defendi a dissertação em Abril de 2014. No fim, achei que era um desperdício toda a informação conseguida ficar no disco do computador ou no arquivo da Universidade Nova de Lisboa. Resolvi meter as mãos na massa, rasgar o tempo e avançar para uma biografia daquele homem que tanta importância teve na História recente de Portugal. Se o mestrado se cingia aos anos da efervescência social, desde a criação do MFA até à tomada de posse do I Governo Constitucional, a biografia seria uma história de vida do nosso Vítor Alves: desde o seu nascimento em Mafra, perto do Convento, em 30 de Setembro de 1935, até 8 de Janeiro de 2011, no Hospital Militar da Estrela, onde faleceu.

Esta tarefa, árdua, mas consoladora tarefa, impediu-me de respirar fundo durante todo este tempo, quanto mais dar-me ao luxo de te vir visitar. Fechei-me com o Vítor Alves e só hoje, 12 de Julho de 2015, estou em condições de me afirmar liberto da promessa que fiz a Vítor Alves, numa certa tarde de Setembro de 2010, de que lhe faria a sua biografia. Está pronta da minha parte. O Marcelo Teixeira é o homem que segue. Agora é com ele e com a Parsifal. Mesmo que (que o diabo seja cego, surdo, mudo, não saiba ler nem tenha Internet) alguma fatalidade me ocorra, o VA já tem a sua biografia.
Para já, temos dois lançamentos aprazados: um para 30 de Setembro (dia em que VA completaria 80 anos - fiz questão) na magnífica biblioteca do Convento de Mafra, e para o dia seguinte, 1 de Outubro, em Lisboa, na requintada sala grande da Sociedade de Geografia, de que ele era sócio honorário. A esta cerimónia se associou a Associação 25 de Abril, de que, além de sócio fundador, VA era igualmente sócio de honra.
São mais de 500 páginas, inúmeras fotografias e documentos inéditos, que devem fazer reequacionar algumas verdades tidas como absolutas, que resultaram de dezenas e dezenas de entrevistas a familiares, amigos e camaradas, muitas semanas de consultas de arquivos, desde logo o de Vítor Alves, completamente virgem, aliás, não trabalhado em termos arquivísticos, e da leitura de uma bibliografia imensa, que se conta por largas dezenas, dos mais e dos menos emblemáticos, títulos publicados sobre este período. 

Depois de me desculpar e prometendo ser mais assíduo, espero que compreendas e que eu possa continuar a poder contar contigo para me ajudares na promoção dos meus escritos, neste caso do próximo, que já tem título: Vítor Alves, o Homem, o Militar, o Político.


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