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A mostrar mensagens de outubro, 2009

Os guineenses e a Língua Portuguesa

Portugal não foi competente na difusão da sua língua na Guiné. Conheço mal o processo de colonização desta antiga província ultramarina, como não conheço os principais factores que levaram ao evidente fracasso. Constato-o, apenas. Para além da Guiné, conheço Moçambique. Quando falo dos países, quero esclarecer que estive, basicamente, as suas capitais. Em Maputo, onde permaneci três semanas, foi raro encontrar dois moçambicanos que não comunicassem em português. Em Bissau, pelo contrário, não me lembro de deparar com dois guineenses que dialogassem na nossa língua. Mais grave, há guineenses a viver na capital com quem é impossível estabelecer uma conversação em português. E não falo de pessoas pertencentes a uma faixa etária idosa, mais afastada do ensino, falo de gente nova, nascida após a independência e que já teve uma escolaridade equivalente ao nosso 11º Ano, onde o português é ensinado desde o início. O calor abafado que se tem sentido, empurra-me para o ar condicionado do

Crianças de Quinhamel

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Crianças de Quinhamel - uma povoação que dista cerca de 30 Km de Bissau. Sem ponta de demagogia vos digo que a sua alegria chega a ser comovente.

Guiné - Chegada

  Estou recostado na cama do quarto 203 do Hotel Ancar, Bissau. Como habitualmente, cheguei ao aeroporto cerca das 2 da manhã. Como habitualmente, aquele calor húmido apossou-se de mim mal desci as escadas do avião, tocou-me os ossos e, passados curtos minutos, já transpirava por todos os poros. Como novidade, duas senhoras anafadas de bata branca e máscara correctamente aplicada nas vias aéreas, esperavam os passageiros. Tinham uma folha A4 cheia de perguntas para entregar a cada um deles. Se teve febre? se tossiu? em que voo chegou? qual o seu lugar no avião? etc., etc., etc. Um pouco mais à frente, um senhor uniformizado entregava um outro impresso, este cartonado, para responderemos às perguntas a que já respondemos no habitual impresso que é distribuído ainda no ar, pelo pessoal de cabina. Basicamente, quem é você? e o que vem fazer? Depois, foi preencher tudo aquilo em pé, na sala das chegadas, com o suor a pingar, apesar de a temperatura em Bissau, segundo o comandante, se situa

Guiné

Já me cheira a Guiné. Amanhã parto para este país em viagem de trabalho. Darei notícias.

Três Cantos

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A sala do Campo Pequeno estava à pinha e abafada, gerando isso um ambiente algo desconfortável; o som não era o exemplo acabado da perfeição, justificando-se os protestos que a espaços surgiram bem audíveis das filas mais altas; por vezes, a duas e a três vozes, a coisa não funcionou assim tão bem no palco. Não obstante, foi uma noite de «canto livre» à moda antiga; verdadeiro revivalismo musical revolucionário. E quando assim é, que interessam as coisas menos boas? Ninguém lhes liga quando estamos expectantes e a torcer por três monstros da cena musical portuguesa do pós 25 de Abril: José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto. Como seria de esperar, na escolha do reportório não avançaram pelo caminho da facilidade, optando por incluir um tema inédito e alguns pouco conhecidos, particularmente na fase inicial, quando estiveram individualmente em palco. Obviamente, tinham matéria-prima em quantidade e qualidade para transformarem o espectáculo num momento arrebatadoramente popular,

A imagem e o talento

Nestes tempos em que a imagem vale mais do que mil talentos, há pessoas que por muito que façam, dificilmente verão reconhecidos os méritos. Assaltam-me a memória uma série de nomes que poderíamos encaixar neste vasto naipe, mas queria falar de um: Sebastião Antunes. Assim de repente, é um nome comum que não dirá muito à esmagadora maioria dos portugueses, e não é de estranhar, apesar de ser um honesto compositor, autor e intérprete musical há cerca de 20 anos. Conheci-o no princípio dos anos 90, no Cacém, onde ambos morávamos; ele o artista, eu o espectador e admirador. Integrava então um projecto chamado Peace Makers, que chegou a ter alguma repercussão, particularmente com um tema intitulado Caixa de Música. Bandolins, violinos, gaitas-de-foles, flautas, letras sempre com sentido e terminologias populares, assim como as músicas, melodiosas ou ritmadas, mas com sonoridades bem ancoradas naquilo que é a essência das nossas origens culturais, que em tempos remotos nos chegaram do Norte

Novo Governo

Bom, temos um Governo novo. Toma posse dia 26, 2ª feira. De todos os nomes, o que mais me surpreendeu foi o de Alberto Martins. Não tanto pelo nome em si, mas pela pasta que lhe foi destinada. Via-o nos Assuntos Parlamentares talvez, tendo em conta as funções de líder da bancada parlamentar do PS ao longo de toda a anterior legislatura, mas não na Justiça. É, contudo, um nome para mim inspirador. Não tanto pela sua carreira política nos últimos anos, mas pela coragem que teve em determinada altura da nossa História colectiva. Num longínquo dia de 1969, aquando da cerimónia inaugural do edifício de Matemáticas da Universidade de Coimbra, na presença do presidente da República, o almirante Américo Tomás e do ministro da Educação, o Dr. José Hermano Saraiva, além dos altos representantes da Universidade, Alberto Martins, então presidente da Associação de Estudantes, aproveitando uma pausa ligeira na cerimónia, ergueu-se na plateia e tomou a palavra, identificando-se e pedindo autorização

Na rádio - Antena 1

Hoje de manhã, no regresso a casa do café e do jornal, ouvi alguém na rádio dizer qualquer coisa como: «Bem e mal fundam-se nas rotinas.» Fica claro que concordo. Se calhar todos concordamos, mas por ser tão evidente, a tendência é que o ignoremos. A nossa passividade relativamente ao mal é nociva ao bem. Todos o sabemos, mas... Logo a seguir, a mesma pessoa - uma senhora -, que não tive tempo de perceber quem era, adiantou: «Os portugueses queixam-se muito, mas nunca protestam.» Outra verdade verdadeira. Tudo nos serve de pretexto para adiar ou não fazer, mas raramente nos agitamos o suficiente para denunciar ou reparar o mal. O sofá, a televisão, ou outra miudeza qualquer, geram a inércia que desmotiva à participação. E quando não havia televisão ou mesmo sofá? Ah, pois!… Havia uma miudeza qualquer, essa nunca faltou. Mas sempre foi assim. Faz parte do ADN nacional. E sendo assim «Vão sem mim que eu vou lá ter.» Como cantam os Deolinda, naquele autêntico lado B do hino nacional, que

Obama, o Nobel e a China

Foi há dias, eu sei, mas ainda dá que pensar. Sempre achei que Obama seria uma pedrada no charco na sociedade americana e, logo, no mundo. Tão extraordinária seria a sua ascensão ao poder, que cheguei a apostar que ele não ganharia as eleições. Perdi. Mesmo assim, voltei a apostar que não chegaria a tomar posse, porque antes disso, um doido qualquer lhe daria um tiro. Bom, perdi de novo e até agora, no que respeita a tiros, estamos, felizmente, em branco. Mas não me enganei, contudo, no significado que teve para o mundo a sua eleição. Um negro, presidente dos EUA, continuava ao nível da ficção e, convenhamos, tal só foi possível no contexto de uma grave crise económica, e mesmo de crença, como o mundo não conhecia havia muito tempo. Apesar de tudo, eu estava longe de o imaginar galardoado com o Nobel da Paz logo no primeiro ano de mandato. Outros presidentes americanos o foram, mas nunca numa fase tão prematura da sua gestão governativa. No entanto, a surpresa aumentou quando soube

Os Vencedores das Autárquicas

E os vencedores são: - O PS, porque conseguiu mais votos; - O PDS, porque elegeu mais presidentes de câmara; - A CDU, porque reconquistou três câmaras; - O PP, porque nunca antes conseguira tantos mandatos; - O Bloco, porque teve mais votos que em 2005 - Os outros também, só que não os conseguimos ouvir. Bom, afinal está tudo bem. Continuamos a ser um país de vencedores. Viva Portugal!

Liedson, o vermelho e a Luz

Afinal, ver Liedson de vermelho a ser aplaudido por cinquenta mil em pleno Estádio da Luz, nem foi mau de todo. Ajudou a selecção a manter acesa a chama de poder vir a estar presente no Campeonato do Mundo na África do Sul em 2010. Com o grupo que nos tocou, tínhamos, à partida, assinado o passaporte. Todos o diziam e eu não fugia à regra. Contudo, as coisas não correram bem. Há que dizê-lo: a selecção jogou mal. É verdade que no jogo contra a Dinamarca em terras lusas, quiçá o melhor dos «tugas» ao longo de toda esta fase, por erros pontuais que se tornaram fatais, acabámos por perder os três preciosos pontitos. Talvez possamos encontrar neste desaire a génese do descontrolo que se instalou na equipa nacional, gerando uma certa crença da impossibilidade de vir a jogar melhor, acabando assim por passar a mensagem que dificilmente marcaria presença no Mundial. A verdade é que a Dinamarca veio a revelar-se uma equipa que, sem possuir grandes vedetas como as têm Portugal e Suécia, é muito

Esclarecimento à navegação

Ainda um dia vou aprender a transportar para aqui fotografias e vídeos, juro! Fotografias magníficas, vídeos estupendos e então terei um blogue muito mais… multimédia?... Preciso também de saber o que fazer a estas bandas laterais verdes, que até agora me parecem supranumerárias, além de feias. Quando o conseguir, o meu blogue vai parecer um blogue normalizado, no fundo o sonho de qualquer um. Todos lutamos por um lugar no reino da normalização. Não é? Enquanto isso não suceder, este é apenas o meu blogue, um blogue limpinho, arranjadinho quanto baste, honesto, sim concordo, trabalhador, mais ou menos claro, o que, vendo bem e sendo verdade, nem é mau de todo. Acho eu.

Amália, a voz de todos nós

Não queria que este blogue se especializasse em necrologia, mas tenho de escrever algo sobre esta grande portuguesa. Completam-se hoje 10 anos que o coração lhe obedeceu: «...pára meu coração, deixa de bater que eu não te acompanho mais.» Mas foi um outro grande, precocemente desaparecido, que melhor a definiu face ao povo a que ambos pertenciam, refiro-me a António Variações: «Todos nós temos Amália na voz e temos na sua voz a voz de todos nós.» Dificilmente alguém pode encontrar forma de resumir melhor esta relação que sempre existiu entre Amália e os portugueses e, quanto a isso, fico-me por aqui. Façam-lhe justiça continuando a ouvi-la. Ela iria gostar de saber. Numa das suas últimas entrevistas perguntavam-lhe se tinha medo da morte e ela respondeu, vou citar de cor: «Não receio a morte, receio que não chorem a minha morte.» Nada mais simples, humilde, genuíno. Ouvi-la é, de alguma forma, continuar a estar com ela, tê-la entre nós.

A República não é de ninguém

A menina República completa a bonita idade de 99 anos. Nessa manhã de 5 de Outubro de 1910, no Rossio, depois de trinta e tal horas de combates, um general monárquico entregava o poder a Machado Santos, o chefe operacional dos revoltosos, dizendo-lhe que nada tinha para entregar. Assim estava o regime defunto. A família real fugiu para Inglaterra, a monarquia caiu e os republicanos começaram a aparecer aos milhares. Não se sabia que havia tantos, e o seu número não parou de crescer. Oportunistas? Claro, muitos! Já havia disso e em grande quantidade. Machado Santos no jornal que fundou, pouco depois, alcunhou-os de «adesivos». E que melhor alcunha lhes poderia arranjar. Seguiram-se 16 anos de tumulto, depois 48 de paz podre e, há 35, um regime em que existe a presunção de que o povo é quem mais ordena - apenas porque pode votar. Caiu o rei, surgiu o presidente da República. Desapareceu a sucessão dinástica, surgiram outras sucessões e está longe de ser inédita a transmissão do poder de

Mercedes Sosa

Mercedes Sosa morreu. Viva Mercedes Sosa. Quem canta assim nunca morre. Ainda não tenho conta aberta no Youtube, e não posso facilitar o caminho, mas recomendo que vão até lá e ouçam Alfonsina y el Mar. Para quem não conhece, basta esta jóia para que se fique fã. Gracias Mercedes, e gracias a la vida que no-la deu.

Eu sabia

Fiquei feliz com a atribuição das Olimpíadas à, também nossa, Rio de Janeiro. O Comité Olímpico Internacional seguiu as pegadas da FIFA. O próximo campeonato do mundo de futebol terá lugar em 2010 na África do Sul - pela primeira vez no continente negro -, uma decisão não isenta de risco, já se vê, mas penso que calculado. Em 2014, este evento tão mediático decorrerá exactamente no Brasil – pela segunda vez, depois da primeira e longínqua experiência de 1950. O COI não quis ficar atrás, depois da vergonha que foi não ter concedido a organização dos jogos do centenário à cidade berço, em pura cedência ao poderio económico americano, no caso em favor de Atlanta. Depois percebeu a injustiça e tentou arrepiar caminho, favorecendo Atenas com a organização dos jogos de 2000. Tardio remedeio, a falta já estava irremediavelmente registada. Agora pareceu não ter querido repetir a asneira e vai daí, seguiu os homens da bola e inovou ao levar os Jogos Olímpicos pela primeira vez para a América

Editorial

A única coisa que neste editorial se promete é que nunca prometerei coisa alguma. Isto, obviamente, no que respeita a temas, tendências e estéticas. Escreverei sobre tudo, sem aviso prévio e calendário político ou outros. Farei um esforço para cumprir honestamente este desiderato. Mas se não o conseguir, tal não deve ser entendido como havendo intenções sub-reptícias, mas apenas a mera distracção ou falta de inspiração ou talento. Falarei de cultura, de política, do Homem, ou seja, de tudo, mas apenas quando me apetecer. Não prometo que não fale dos meus livros, e não peço desculpa por isso. Porque se o fizer, nunca será no sentido de os promover, mas apenas por mera e perdoável vaidade, essa fragilidade tão humana. Não é que os livros sejam como filhos, não cairei nessa imagem estafada, até porque nunca concordei com ela, mas apenas porque gosto de falar das coisas que de mim saem e que, não obstante o desgastante processo de produção e mais ainda de revisão, continuo a gostar dela