Três Cantos



A sala do Campo Pequeno estava à pinha e abafada, gerando isso um ambiente algo desconfortável; o som não era o exemplo acabado da perfeição, justificando-se os protestos que a espaços surgiram bem audíveis das filas mais altas; por vezes, a duas e a três vozes, a coisa não funcionou assim tão bem no palco. Não obstante, foi uma noite de «canto livre» à moda antiga; verdadeiro revivalismo musical revolucionário. E quando assim é, que interessam as coisas menos boas? Ninguém lhes liga quando estamos expectantes e a torcer por três monstros da cena musical portuguesa do pós 25 de Abril: José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto.

Como seria de esperar, na escolha do reportório não avançaram pelo caminho da facilidade, optando por incluir um tema inédito e alguns pouco conhecidos, particularmente na fase inicial, quando estiveram individualmente em palco. Obviamente, tinham matéria-prima em quantidade e qualidade para transformarem o espectáculo num momento arrebatadoramente popular, e facilmente puxar para si todos aqueles milhares de pessoas. Mas não quiseram, recusaram o facilitismo e, no entanto, conseguiram-no plenamente.

Mesmo assim houve tempo para os grandes hinos, criações de cada um dos três artistas presentes: Foi Como Um Sonho Acabado, A Barca dos Amantes, Rosalinda, Ser Solidário, Primeiro Dia, Casimiro, Quadras Populares, etc. etc. etc. Foram mais de duas horas vividas com grande intensidade, sendo que em alguns momentos, a emoção tocou e contagiou grande parte daquela massa humana que, para ali estar, necessitou de se precaver, adquirindo o ingresso com algum tempo de antecedência. Aliás, o espectáculo a que assisti não era para ter acontecido. Falta de confiança, talvez, porque inicialmente estava previsto apenas um em Lisboa e outro no Porto. No entanto, a procura de bilhetes rapidamente levou a organização a convencer os artistas a realizarem mais um concerto suplementar, e estes, felizmente, cederam.

Na próxima semana, vão estar no Coliseu do Porto para mais duas apresentações. Das quatro sairá um DVD que, seguramente, está destinado ao sucesso, como o foi o concerto a que pude assistir. Cada um daqueles três senhores bem o merece. Eles fazem parte não só do nosso presente, continuando activos a contribuir para a grandeza da música, mas também porque já têm obra produzida que os catapulta para o patamar destinado ao património cultural imaterial recente, tendo, por isso, lugar cativo no canto emotivo da memória de alguns milhões de portugueses.

PS: Como podem ver, colo a este post a primeira fotografia deste blogue. Urra! Estamos de parabéns. Foi uma das minhas filhas que se encarregou de o fazer. Talvez eu tenha aprendido. Veremos.

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