Obama, o Nobel e a China

Foi há dias, eu sei, mas ainda dá que pensar.
Sempre achei que Obama seria uma pedrada no charco na sociedade americana e, logo, no mundo. Tão extraordinária seria a sua ascensão ao poder, que cheguei a apostar que ele não ganharia as eleições. Perdi. Mesmo assim, voltei a apostar que não chegaria a tomar posse, porque antes disso, um doido qualquer lhe daria um tiro. Bom, perdi de novo e até agora, no que respeita a tiros, estamos, felizmente, em branco. Mas não me enganei, contudo, no significado que teve para o mundo a sua eleição. Um negro, presidente dos EUA, continuava ao nível da ficção e, convenhamos, tal só foi possível no contexto de uma grave crise económica, e mesmo de crença, como o mundo não conhecia havia muito tempo.

Apesar de tudo, eu estava longe de o imaginar galardoado com o Nobel da Paz logo no primeiro ano de mandato. Outros presidentes americanos o foram, mas nunca numa fase tão prematura da sua gestão governativa. No entanto, a surpresa aumentou quando soube que a data limite para a entrada das candidaturas no Comité Nobel coincidiu com o 12º dia de mandato de Obama como presidente. Pouco podia ter feito, além de conhecer os cantos à Casa Branca.

Não conseguimos assim encaixar o Nobel da Paz deste ano nas razões pelas quais todos os anos é entregue: actos que se traduzem em contributos efectivos para a paz. Houve falta de tempo para que o premiado os pudesse cometer. Se quisermos, encontramos explicação apenas nas expectativas. É, portanto, um prémio pela esperança do que pode vir a ser feito e não pelo que se fez; um prémio que não premeia, mas responsabiliza, que devia comprometer o laureado com o mundo e com a paz.

Não obstante, a primeira medida de Obama após a atribuição do Nobel, não permite acalentar grandes esperanças de que ele se deixe levar por estas pressões de sinal positivo, porque anunciou que não receberia o Dalai Lama, gesto que os seus antecessores nunca ousaram cometer, fossem republicanos ou democratas, mais ou menos conservadores.

Lamentavelmente, Obama não parece pressionável por prémios, ainda que os mais reputados. Porém, a sua capacidade de resistir a pressões esbate-se quando ela, a pressão, chega da emergente, mas já bem real, potência mundial, actualmente titular de grande parte da dívida externa americana, a R. P. da China.
A real politique a funcionar em pleno, e ele, o presidente de todas as expectativas, como qualquer outro a curvar-se.

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