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A mostrar mensagens de 2009

2010 e o pé direito

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Entrar em 2010 com o pé direito sem fazer ondas

Crime made in Portugal

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Na edição do último dia de 2009, o jornal diário i fez um balanço rápido do ano criminal em Portugal. A grande conclusão a tirar é de regozijo: também no crime temos muito que pedalar para chegarmos à linha da frente da grande criminalidade, senão vejamos a lista elaborada pelo periódico: "Sonhos de Menino" João, 45 anos, matou a filha em São Mamede de Infesta (Matosinhos). Em Maio, numa quinta-feira, pediu à ex-mulher para jantar com a criança de seis anos. Sentou-a ao colo e pôs-lhe o cinto do roupão à volta do pescoço. Beijou-a uma última vez e estrangulou-a. Depois preparou a mesa com dois pratos e pôs a tocar a música favorita da filha – “Sonhos de Menino”, de Tony Carreira. A seguir mandou um sms à ex-mulher: “A tua filha foi para o Céu.” Tentou suicidar-se duas vezes, mas está preso a aguardar julgamento. Quando a bolha rebenta Em Maio, três homens conseguiram a proeza de assaltar 720 pessoas ao mesmo tempo. Encapuzados e disfarçados com fardas iguais às do Cor

Liu Xiaobo e a real politique

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O dissidente chinês Liu Xiaobo, foi condenado a 11 anos de trabalhos forçados por publicamente ter manifestado a sua opinião, que é contrária ao pensamento oficial do seu país – sim, aquele país tem um pensamento oficial. A geração a que pertenço cresceu a ouvir vozes críticas, de apoio ou de tolerância, face a situações como esta. Durante a guerra fria, as acusações eram recíprocas emitidas de um e de outro lado do muro. Hoje não existe a confrontação de blocos como existiu até há 20 anos. A geopolítica mundial alterou-se consideravelmente. A guerra, nem sempre tão fria assim, já não existe. A guerra hoje não é por um modelo ideológico, mas económico, ou mais redutor, apenas pela economia. Nestas duas décadas a China transformou-se na grande potência mundial que é, detentora de grande parte da dívida externa americana, com interesses em todo o mundo e com tal pujança, que já se atreve a contestar o dólar como moeda preferencial para as trocas internacionais. Os EUA tremem com t

O meu Menino Jesus

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Num meio dia de fim de primavera Tive um sonho como uma fotografia Vi Jesus Cristo descer à terra, Veio pela encosta de um monte Tornado outra vez menino, A correr e a rolar-se pela erva E a arrancar flores para as deitar fora E a rir de modo a ouvir-se de longe. Tinha fugido do céu, Era nosso demais para fingir De segunda pessoa da Trindade. No céu era tudo falso, tudo em desacordo Com flores e árvores e pedras, No céu tinha que estar sempre sério E de vez em quando de se tornar outra vez homem E subir para a cruz, e estar sempre a morrer Com uma coroa toda à roda de espinhos E os pés espetados por um prego com cabeça, E até com um trapo à roda da cintura Como os pretos nas ilustrações. Nem sequer o deixavam ter pai e mãe Como as outras crianças. O seu pai era duas pessoas - Um velho chamado José, que era carpinteiro, E que não era pai dele; E o outro pai era uma pomba estúpida, A única pomba feia do mundo Porque não era do mundo nem era pomba. E a sua mãe

Presépio de Lata

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Meninos de rua - Maputo Meninos pedintes - Bissau O menino que não conseguia pedir - Quinhamel - Como se pode ficar indiferente a uma expressão como esta? Presépio de Lata Três estrelas de alumínio A luzir num céu de querosene Um bêbedo julgando-se césar Faz um discurso solene Sombras chinesas nas ruas Esmeram-se aranhas nas teias Impacientam-se gazuas Corre o cavalo nas veias Há uma luz branca na barraca Lá dentro uma sagrada família À porta um velho pneu com terra Onde cresce uma buganvília É o presépio de lata Jingle bells, jingle bells, Oiçam um choro de criança Será branca negra ou mulata Toquem as trompas da esperança E assentem bem qual a data A lua leva a boa nova Aos arrabaldes mais distantes Avisa os pastores sem tecto Tristes reis magos errantes E vem um sol de chapa fina Subindo a anunciar o dia Dois anjinhos de cartolina Vão cantando aleluia É o presépio de lata Jingle bells, jingle bells, Nasceu enfim o menino Foi posto a

Cá se fazem... ou o Pai Natal e os Guardiões do Tempo

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Desenho da menina Beatriz Cortez, com carta e tudo A pedido de muitas famílias que, dizem-me, não conseguem encontrar o Jornal de Letras, aqui fica o meu conto de Natal, inserto no último número daquele periódico. Cá se fazem... Uma das principais atribuições dos guardiões do tempo é verificar se está tudo em ordem com o calendário universal. Não é frequente, mas já houve casos de sumiço de dias comuns sem nunca se ter percebido como ou porquê, cabendo então ao Conselho de Guardiões ajustar o calendário e submetê-lo aos homens. Por estes dias, contudo, sucedeu algo mais grave e inaudito. Na última reunião magna de Novembro, ao consultar os registos secretos, o guardião-mor constatou que faltava um dia no mês seguinte, e logo calhou que fosse o dia de Natal. A estupefacção pelo insólito deu lugar à indignação pelo atrevimento. - Quem ousou mexer no meu calendário? Quem fez desaparecer o Natal, pondo em perigo os nossos lugares neste Conselho? – bradou ele, ao ritmo dos murros qu

Curso de Escrita Criativa - El Corte Inglés

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Decorre no El Corte Inglés de Lisboa, a 12ª edição do Curso de Escrita Criativa, sob a direcção de José Couto Nogueira. A exemplo de muitas outras iniciativas no âmbito da difusão cultural, patrocinadas por aquela multinacional espanhola, esta é particularmente interessante porque visa possibilitar o contacto entre amantes da escrita, sejam leitores ou escritores. A acção de formação é gratuita - coisa rara e também por isso de louvar -, bastando ter cartão de cliente para se poder participar. É composta por 11 sessões e ministrada na Sala de Âmbito Cultural, no Piso 7, às terças e quintas-feiras, das 19 às 21h00. A presente edição iniciou-se no dia 12 de Novembro e vai terminar a 22 de Dezembro. Cada sessão é composta por duas partes de 45 minutos e inclui apresentações de autores e editores, havendo ainda um espaço destinado a debate. Tendo em conta os méritos da iniciativa e o simpático convite de José Couto Nogueira, também eu darei o meu contributo e, assim, com todo o prazer,

A justiça e a democracia

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Adivinhem quem recentemente escreveu a seguinte frase, que em nada abona a nossa democracia: «No antigo regime(...) a justiça (...) funcionava muito melhor do que hoje.» Dou algumas hipóteses: - um antigo ministro da Justiça de antes do 25 de Abril; - um outro qualquer velhinho saudosista do regime ditatorial; - algum elemento da oposição ao actual Governo, em momento de algum desnorte. Podia ter sido qualquer um deles, mas, de facto, o autor do dito conserva - ainda que não exiba – um título tão marcante quanto localizado no tempo: o de anti-fascista. Saiu de Portugal enquanto estudante universitário, devido a problemas com a polícia politica; não fez a guerra colonial e terminou o seu curso de Sociologia no estrangeiro - penso que na Suíça. Só regressou a Portugal após o 25 de Abril, tendo tido algum protagonismo político nos anos que se seguiram. Depois, abandonou a política activa e dedicou-se ao estudo, transformando-se num dos maiores conhecedores das entranhas sociais

Copenhaga, ano zero? Parece que sim.

Afinal, surpreenderam-me. Parece que se entenderam. Não conhecemos ainda os termos do entendimento, talvez os próximos tempos sejam esclarecedores relativamente a essa matéria, mas o simples facto de os líderes políticos terem tido a inteligência de assinar um tratado antes de abandonarem Copenhaga, é, por si só, um dado positivo; o início do caminho certo. Deseja-se. Parece que me enganei na dose excessiva de cepticismo. Surpreenderam-me, e fico feliz com isso.

Jornal de Letras - A «biografia» do Pai Natal

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Em resposta a um simpático convite de Rita Silva Freire, do Jornal de Letras, em 3500 caracteres, desenhei um conto alusivo à época festiva que se aproxima, onde o Pai Natal surge apertado pelas regras da globalização. Sai amanhã.

Copenhaga, ano zero?

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A gaivota e o mar da Ericeira Decorre em Copenhaga a conferência mundial sobre o clima, onde estão representados quase duzentos países. De há muito, alguns têm vindo a alertar para os efeitos nefastos das bruscas alterações climáticas, em consequência directa do uso intensivo de combustíveis fósseis ao longo das últimas décadas. De há muito se fala em buracos na camada do ozono, de furações temíveis cada vez mais frequentes, do aumento da temperatura média e o consequente degelo das calotes polares, entre muitos outros fenómenos gravíssimos que, em última análise, podem colocar em perigo a sustentabilidade da vida no planeta. Quase todos concordamos que alguma coisa tem de ser feita, e rapidamente. Mas grandes interesses económicos estão em jogo. As petrolíferas continuam a ser os grandes potentados económicos do mundo. Nenhum ser inteligente ignora a enorme capacidade de penetração destes na política de topo das principais potências, que são também as mais poluidoras. Se para o

Quase bloguista

Bastaram dois míseros mesitos, com várias horas diárias de prática, e já consegui colocar as capas dos livros e a fotografia do autor exactamente onde desejava. Isto vai... devagar, mas vai. Mais do que uma promessa do bloguismo nacional, sinto-me já uma quase certeza. Fiquemos pelo quase. P.S.: Os direitos de autor são, obviamente, para respeitar. A minha fotografia é da autoria de um fotojornalista do 24 Horas, cujo nome de momento me falha e as tentativas efectuadas para o conseguir saíram frustradas. A justiça será reposta o mais rapidamente possível. Entretanto, a ele e a todos os criadores esquecidos e usurpados desta vida, os meus mais solidários e respeitosos cumprimentos.

Para constar

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Lamentavelmente, nem todos tiveram oportunidade de apreciar um cozido de grão que não se limitou a cumprir, estava delicioso.

Cheguei... no sábado

Cheguei no sábado, mas por aqui tudo continua na mesma. A face permanece oculta - divulgam-se as escutas ou não?; os desajustes nas contas do défice estão no ar; o desemprego não pára de crescer, e dói; a Justiça passeia alegremente pelas ruas da amargura e a gente vê; as crises – são várias, e a económica não é a mais grave – prosseguem a sua marcha imparável; José versus Aníbal...  mas fora do ringue. Pelo menos na Guiné não se fala nisto. Bom, vendo bem, talvez haja algumas novidades. Portugal e Brasil estão juntos no grupo G do Mundial; comem-se e respiram-se os estafados enfeites e a irritante música de sininhos e, upsss… tenho os pés frios como há muito não sentia.

O cozido de grão combate a nostalgia

É quarta-feira, dia 2 de Dezembro. Às duas da manhã do próximo sábado, espero estar no avião que me vai levar a casa. Estou na Guiné-Bissau há cinco semanas e meia. Ontem vi na RTP Internacional a transmissão do evento que celebrou a entrada em vigor do Tratado de Lisboa. Gostei de ver a Torre, a Ponte, o Cristo Rei, o CCB, os Jerónimos, o estuário, a Praça do Império... Se algo não foi mostrado, pensei-o. Veio-me à memória o cheiro dos pastéis de Belém com a nuvem de canela a cobri-los, e cheguei a sentir o sabor da ginjinha quando, afinal, bebia uma estereotipada cerveja. Ouvi o Rodrigo Leão e pensei: «A banda sonora ideal para esta noite, naquele local, com esta alma.» Gostava de estar lá, não dentro da tenda transparente - muito boa ideia, aliás - mas fora, a cirandar por ali, a respirar aquele ar húmido envolto em noite e maresia. Passaram-se cinco semanas e meia... só cinco semanas e meia. Às 8 horas de sábado estarei em Lisboa. No domingo, tenho encontro marcado com a família

Bafatá e o Geba

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Conta a lenda que um antigo chefe fula foi o primeiro homem a estabelecer-se ali. Chamou ao lugar Bafató, que na sua língua significa encontro de rios. De facto, um rio mais pequeno entronca no Rio Geba, o maior da Guiné, que se junta ao mar uns quilómetros adiante. O tempo transformou Bafató em Bafatá que, por estrada, dista cerca de 120 quilómetros de Bissau para o interior. Nos últimos anos, o centro da cidade deslocou-se para uma zona mais alta, junto do cruzamento da estrada para Bissau. Quem venha da capital e aí vire à esquerda, entra numa avenida larga e esburacada, que desce até ao rio. De um lado e outro da artéria, podem ver-se os edifícios mais emblemáticos da cidade, e ruas perpendiculares que se estendem, dando corpo à cidade histórica. A foto foi tirada a dois passos do rio e de costas voltadas para ele. Mostra o que resta da principal praça da cidade colonial, onde termina a dita avenida. Os dois amigos interromperam a pescaria para posar Este é o Júnior. Pro

Quinhamel e Mar Azul

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De Bissau a Quinhamel, a distância é curta e a estrada boa. Na rotunda do aeroporto vira-se à esquerda e cerca de 40 minutos depois, sem grandes velocidades, estamos lá. Cuidado com as galinhas, cabras e porcos – bichos pequenos estes… - que andam em liberdade no processo de autosustentação, e atravessam sem pedir licença. Já em Quinhamel, mas antes das ostras do senhor Aníbal, passámos por um muito jovem admirador de Obama. Por estas bandas, os EUA passaram também a ser definidos como «Estados Unidos de Obama».   O local onde o pecado não existe ou está condenado ao perdão - até o da gula Enquanto as ostras abriam e o peixe assava, saimos do restaurante para dar um passeio, mas logo um bando de «pardais» nos assaltou - talvez apareçam mais à frente. Fomos andando, cedendo ao apelo da água, mas sempre em boa companhia O depósito amarelo contém um líquido aqui muito apreciado: vinho de palma. Juro que não bebi, e nem foi pelo preço, 250 francos o litro, mas pela cor - era

O tédio e o quarto de hotel…

Gosto de escrever com o computador apoiado nas pernas flectidas, recostado no lado esquerdo da cama. Sempre no lado esquerdo. Como preciso da luz do candeeiro da mesa-de-cabeceira e não disponho de uma ficha tripla, tenho de ligar o computador à tomada que está no lado oposto. Não há outra. Acontece que a entrada de corrente situa-se exactamente à esquerda do meu PC. Logo, o cabo tem de passar por cima de mim e detesto sentir aquele toque. Há dias em que detesto mais. Hoje de manhã, pôs-se-me a questão: optar pela direita da cama para escrever, alterando hábitos, ou ir comprar uma ficha tripla. Resolvi: vou comer ostras a Quinhamel.

Ainda e sempre os Bijagós

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O pequeno aldeamento turístico de Rubane, o da «francesa», ocupa uma linha de costa não superior a 200 metros, sendo que a zona social – com bar, piscina e restaurante -, marca o centro do empreendimento. Para um e outro lado, estendem-se a dúzia e meia de cabanas, entre quartos e apartamentos. Na «francesa» – como terá ela vindo aqui parar? - destaca-se um rosto amarelecido, pele engelhada e baça, marcas bem visíveis de um tempo agreste, mas também por via do muito fumo de tabaco que por ele perpassa. Magra e relativamente alta para o padrão português, só se exprime na língua materna e, tanto os empregados como os clientes, têm de sujeitar-se. Mas vale bem o sacrifício. Este foi o palácio que me serviu para passar a noite. Não que dormisse bem, esteve até longe de ser uma boa noite de sono. A fauna local mais perturbadora, aqueles seres rastejantes e esvoaçantes, quase todos pretos, mas também de outras cores, pequenitos ou menos pequenitos, a que genericamente se chama insectos,