Liu Xiaobo e a real politique


O dissidente chinês Liu Xiaobo, foi condenado a 11 anos de trabalhos forçados por publicamente ter manifestado a sua opinião, que é contrária ao pensamento oficial do seu país – sim, aquele país tem um pensamento oficial.

A geração a que pertenço cresceu a ouvir vozes críticas, de apoio ou de tolerância, face a situações como esta. Durante a guerra fria, as acusações eram recíprocas emitidas de um e de outro lado do muro. Hoje não existe a confrontação de blocos como existiu até há 20 anos. A geopolítica mundial alterou-se consideravelmente. A guerra, nem sempre tão fria assim, já não existe. A guerra hoje não é por um modelo ideológico, mas económico, ou mais redutor, apenas pela economia. Nestas duas décadas a China transformou-se na grande potência mundial que é, detentora de grande parte da dívida externa americana, com interesses em todo o mundo e com tal pujança, que já se atreve a contestar o dólar como moeda preferencial para as trocas internacionais. Os EUA tremem com tal poder porque não o podem afrontar. Perante isto, que interessam as violações dos direitos humanos? Mesmo quando o país que os viola é governado por um partido dito comunista, como o era a URSS. Mas que peso tem isso no limiar de 2010 fase ao peso da economia? É a real politique...

Mesmo para um presidente como Obama, eleito com as mais altas expectativas por ser considerado um guardião dos valores humanistas, que peso tem a condenação de um homem nestas circunstâncias? Será por isso que não se ouve uma voz, daquelas que se fazem ouvir, em defesa deste homem, que se limitou a dizer o que pensa? Ainda houve uns estrebuchos, é certo, a senhora Merkel - sempre ela - manifestou desagrado; da administração americana também saiu um comunicado com pezinhos de lã, como convém, mas logo o gigante do Oriente engrossou a voz para bradar que considerava uma ingerência nos assuntos internos da China e... fez-se silêncio geral.
Será por isso que Obama foi o primeiro presidente americano a recusar receber o Dalai Lama? Foi, claro que foi! É a real politique... Obama não concorda com a opressão que sofre o povo tibetano, como não concorda com esta condenação aberrante que atingiu Liu Xiaobo e todos os homens de bem, mas outros valores se elevam, os do poder da economia, e cala-se. E assim, temos uma ditadura potencialmente perigosa, como o são todas as ditaduras com músculo, a decretar o que mais lhe convêm enquanto o mundo assobia para o ar ou conta os tostões.

Por Liu e por todos quantos vêem vilipendiados os seus direitos mais elementares; contra todas as formas de tirania, mesmo a económica, e contra quem, cobardemente, se cala perante o poder do mais forte.


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