Bafatá e o Geba

Conta a lenda que um antigo chefe fula foi o primeiro homem a estabelecer-se ali. Chamou ao lugar Bafató, que na sua língua significa encontro de rios. De facto, um rio mais pequeno entronca no Rio Geba, o maior da Guiné, que se junta ao mar uns quilómetros adiante. O tempo transformou Bafató em Bafatá que, por estrada, dista cerca de 120 quilómetros de Bissau para o interior.

Nos últimos anos, o centro da cidade deslocou-se para uma zona mais alta, junto do cruzamento da estrada para Bissau. Quem venha da capital e aí vire à esquerda, entra numa avenida larga e esburacada, que desce até ao rio. De um lado e outro da artéria, podem ver-se os edifícios mais emblemáticos da cidade, e ruas perpendiculares que se estendem, dando corpo à cidade histórica. A foto foi tirada a dois passos do rio e de costas voltadas para ele. Mostra o que resta da principal praça da cidade colonial, onde termina a dita avenida.



Os dois amigos interromperam a pescaria para posar



Este é o Júnior.
Prometeu-me que quando fosse «homem grande», iria recuperar os baloiços existentes na praça,
baloiços que ele não teve direito a usar porque deles restam apenas os escombros.



Penitencio-me por não recordar o nome deste rapaz, mas a seu lado jazem os ferros do que
foi um banco de jardim. Atrás, os restos dos pilares da estrutura que delimitava a praça.
O Júnior espreita.




Séco e Ussumane


Complexo de lazer com piscinas, restaurante e salão de chá, situado mesmo ao lado da praça e
sobranceiro ao rio. Numa inscrição na pedra, ao fundo da piscina, pode
ler-se o ano de construção, 1962.



Os pensamentos ou os  fantasmas dos colonos mais endinheirados, ainda visitam o
restaurante e o salão de chá - mas não os vêem assim.


A igreja estava fechada - só abriria na manhã de domingo à hora da missa




Chegou a hora do almoço e as possibilidades de escolha escasseavam. «Vão à dona Célia!», recomendaram-nos. É a senhora que está encostada à porta. O seu estabelecimento é o Ponto de Encontro. Com o seu marido, são os únicos portugueses residentes em Bafatá. O senhor Dinis cumpriu o serviço militar na Guiné entre 1963/65 e por lá ficou. Um camponês das Caldas da Rainha, cheio de irmãos e de fome, que tinha a perder? Ficou na Guiné e, dois anos depois, já era dono de uma escola de condução, que ainda mantém. Em 1972 viajou à terra natal para casar com a sua madrinha de guerra e regressar. Porém, acabou por se perder de amores por Célia, uma jovem de 18 anos, que trocou o lar paterno pela Guiné. A guerra estava no auge e invadia as próprias cidades. Os abrigos secretos em casa eram obrigatórios na iminência de um ataque. Chegou a independência e eles ficaram. Regressar à aldeia com uma mão atrás e outra à frente, nunca lhes ocorreu. Passaram-se trinta e cinco anos e vivem pobremente. «Isto está cada vez pior, as pessoas não têm dinheiro». A pergunta era inevitável: se soubesse o que sabe hoje, teria ficado? «Nem pensar!» respondeu sem hesitar o senhor Dinis, acrescentando cabisbaixo e com um brilhozinho nos olhos: «Mas agora é tarde». A galinha à cafreal estava boa.


Três irmãos, filhos de um professor vizinho do Ponto de Encontro. À esquerda, a Célia, em
homenagem à portuguesa; à direita, o José, em homenagem ao português - José Dinis -;
no meio a mais nova, cujo nome se me varreu.


 A Célia e o sorriso


 Digam lá que a miúda não tem pinta...



Aqui, a fingir-se algo acanhada...


... para agora surgir imperial, e de corpo inteiro


A Célia de 4 anos, com o irmão Eduardo


A imaginação ao poder. Quando não há, inventa-se! Foi o que fez o Zé. Uma grade de refrigerantes, vários arames ajeitados a preceito, um pequeno limão verde bem redondinho e eis um engenhoso jogo de matraquilhos.




A natureza pujante, bruta mesmo, prevalece sobre todas as coisas, homens incluidos. É a grande
força de África e paradoxalmente, o elemento que mais condiciona o seu desenvolvimento.



E em Bafatá, subitamente, uma camioneta para... Lisboa


Mensagens populares deste blogue

Fortaleza Real de São Filipe, Cabo Verde, Património Histórico da Humanidade

Chamateia de Luís Alberto Bettencourt