Cinema na cama

Nos últimos dias, quando o trabalho não apertava e não me apetecia fazer outra coisa, ficava recostado na cama com o computador ao lado, num plano ligeiramente superior, quase sempre sobre a mala, headfones nos ouvidos e vi, ou tentei ver, os seguintes filmes:



- Distrito 9 – Uma denúncia inteligente dos preconceitos face às diferenças físicas, culturais, religiosas, etc. Imaginem só: passa-se na África do Sul, o país do apartheid, mais precisamente em Joanesburgo, cidade marco dessa brutalidade, mas igualmente sinónimo da luta contra a segregação. Os diferentes começam por ser extraterrestres, depois... imaginativo e surpreendente.

- Ghost Town – uma história bem-disposta, que cruza o além com o aquém, as fraquezas humanas. Um homem morre inesperadamente e volta em espírito para tentar compensar das suas infidelidades a mulher que amava. Aproveitou-se para o efeito de um dentista – personagem representado, nem mais, pelo actor protagonista da série de boa memória, A Firma, que passou na 2, aos domingos à noite. Quiseram os argumentistas que este clínico tivesse contacto com a morte e que por isso ficasse em condições de estabelecer a ponte entre o mundo de cá e o outro. Atrás daquele primeiro homem-espírito, vêm mais e o dentista, após alguma resistência, vai cumprindo as tarefas que ficaram atravessadas na consciência de quem partiu abruptamente, concedendo-lhes a ansiada paz. Filme recheado de bom humor inglês sem, contudo, deixar de comover os espíritos mais sensíveis.





- Idade do Gelo 3 – Adormeci. A culpa não foi do filme, que mantém aquele ritmo frenético dos anteriores e que diverte muito, mas da noite mal dormida. A ele hei-de voltar.







- The Wall – não a magnífica longa-metragem feita a partir do disco dos Pink Floyd, mas a gravação do espectáculo levado a cabo em Berlim em 1990, na sequência da queda do muro – de que se comemoraram agora os 20 anos -, em que participaram inúmeras estrelas da música internacional. Roger Waters, o grande obreiro, nunca abdicando de intervir socialmente, quis brindar com este simbólico evento os berlinenses, aqueles que mais directamente sofreram com o muro odioso. Um eloquente documento.


- Ponto de Vista – filmado em Salamanca, na Plaza Mayor e em alguns outros recantos antigos da cidade, o que só por si justificava o visionamento. O espectador vai recebendo os diversos pontos de vista das pessoas que assistiam ao evento que está no centro da trama – uma realizadora na régie de uma cadeia de televisão, um guarda-costas, um turista, um terrorista, etc., etc.. O tronco principal vai sendo repetido sistematicamente, porque todos o presenciaram, porém, a história é constantemente enriquecida com os novos detalhes que vão chegando. Não tanto pelo tema abordado no filme - um atentado ao presidente dos EUA levado a cabo por fundamentalistas islâmicos -, mas pela forma original como foi engendrada a estrutura do argumento e pelos meios usados na sua realização, bem valeu o tempo dispendido.





- Star Trek – eu tentei, até me esforcei confesso, mas desisti – não há paciência.









- State of Play - uma história interessante sobre a sociedade da competitividade. A ameaça das aspirações políticas de um jovem congressista, as ligações encapotadas do poder económico ao poder político de topo, a luta pelo protagonismo nos media, a luta destes pelas audiências… o que fazer para sobreviver ou para singrar? E a amizade, essa fragilidade humana, onde fica? Sem deixar de ser um filme de acção, mexe em assuntos sérios que deviam estar mais na ordem do dia.





                                                        Vi mais uns quantos, mas ficam para a próxima.

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