Últimas chuvas do ano em Bissau

Ontem choveu em Bissau. O dia nasceu cinzento o que para mim foi um bom presságio. Não há sol, menos calor, óptimo. As primeiras gotas começaram a cair preguiçosas, estava eu sentado na esplanada do Oásis, um restaurante perto do porto, que compensa a sofrível cozinha com um bom espaço aberto, onde as mesas alternam com as palmeiras, e onde, quando é tempo delas, se comem boas ostras de Quinhamel. O meu colega queria abrigar-se no telheiro, mas eu, moita... resisti. Mais uns minutos, que esta água não assusta ninguém, e era verdade. Aquela. O empregado alto, magro, vestido de calça preta vincada e camisa branca, veio em meu auxílio com um sorriso: «São as últimas chuvas o ano». Mas logo de seguida, as comportas do céu cederam à pressão e vai daí, foram duas horas a chover como eu não me lembro de ver. Cansei-me da vista das palmeiras, das mesas e das bátegas a cair no empedrado. Pedi emprestado um chapéu ao dono do restaurante, decidido a chegar ao hotel em cinco minutos. Acabou por ser um pouco mais, porque a estrada por onde sigo habitualmente estava coberta de água e resolvi voltar para trás, a fim de contornar o quarteirão. Boas contas fiz, mas nem sempre acerto. Foi o caso. Se por um lado a água me daria pelos joelhos, pelo outro era, pela certa, um palmo acima. Primeira forma. Optei pelos pés e pernas de molho. E foi caminhar cerca de 100 metros assim, até à porta do hotel, que dá para a rua mais desnivelada das redondezas, a julgar pela altura da água. Na recepção a azáfama era imensa. As empregadas de limpeza acorreram dos diversos afazeres. Nada era mais importante do que livrarem-se daquela água. Quanto a mim, agarrei nas chaves e escadas acima, para tirar a roupa ensopada. De seguida, fui à varanda registar o momento de que vos dou conta.



Entrada do Hotel Malaika, que fica na mesma rua do Ancar


Zona fronteira ao Hotel Ancar



O Malaika é o edifício mais à direita. Aquele rapaz de azul vestido, não se cansou de me acenar para que eu não o esquecesse nas fotografias, e eu cumpri.


Hoje de manhã, a Manuela, a empregada de limpeza que ontem quase nem me falou, empenhada em não dar descanso ao rodo, estava com má cara.

- Então Manuela, que é isso?

- Estou morta, foi muita água, estou morta – disse no seu jeito, quase sem pronunciar os érres.



A Manuela, uns dias antes claro

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