Novo Governo

Bom, temos um Governo novo. Toma posse dia 26, 2ª feira.
De todos os nomes, o que mais me surpreendeu foi o de Alberto Martins. Não tanto pelo nome em si, mas pela pasta que lhe foi destinada. Via-o nos Assuntos Parlamentares talvez, tendo em conta as funções de líder da bancada parlamentar do PS ao longo de toda a anterior legislatura, mas não na Justiça.
É, contudo, um nome para mim inspirador. Não tanto pela sua carreira política nos últimos anos, mas pela coragem que teve em determinada altura da nossa História colectiva.

Num longínquo dia de 1969, aquando da cerimónia inaugural do edifício de Matemáticas da Universidade de Coimbra, na presença do presidente da República, o almirante Américo Tomás e do ministro da Educação, o Dr. José Hermano Saraiva, além dos altos representantes da Universidade, Alberto Martins, então presidente da Associação de Estudantes, aproveitando uma pausa ligeira na cerimónia, ergueu-se na plateia e tomou a palavra, identificando-se e pedindo autorização para falar em nome dos alunos. O velho marujo, engoliu em seco, disse que sim senhor, mas que primeiro falaria, penso que o ministro da Educação. No entanto, mal este acabou o discurso, o presidente da República levantou-se e saiu.

Nessa mesma noite todos os membros da Associação de Estudantes foram detidos pela PIDE/DGS, e este acontecimento foi o rastilho para a grave crise académica daquele ano, que se prolongou por largos meses. Foi o nosso Maio de 68 com um ano de atraso.

Gostaria que o novo ministro da Justiça usasse nas suas futuras funções, um pouco daquela ousadia que o caracterizou naquele dia histórico e que então o catapultou para um patamar destinado aos quase heróis. Custou-lhe caro esse acto de coragem. Foi expulso da Universidade e incorporado nas forças armadas, tendo ido combater para África. Só terminou o curso de Direito depois do 25 de Abril.

Se ele conseguir manter algum desse atrevimento enquanto ministro da Justiça, não lhe posso prometer um lugar de destaque como o que teve em 1969, mas seguramente, a sociedade portuguesa ficará em divida consigo. Portugal precisa de uma Justiça digna da democracia que somos há três décadas e meia. Este é o sector social onde o 25 de Abril menos se fez sentir, e isso reflecte-se no dia-a-dia de quem nele trabalha arduamente, e nos cidadãos que desejam que se faça Justiça.

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