As leis têm alçapões?

Carlos Anjos, inspector da PJ e presidente da ASFIC, associação sindical dos investigadores criminais da Polícia Judiciária, deu uma entrevista ao Correio da Manhã e ao Rádio Clube. De tudo quanto foi dito, a comunicação social fez alarido de uma frase: «Ninguém é preso em Portugal por corrupção.»
Não me espanta que tal fosse afirmado, espanta-me sim a repercussão que teve a frase, dada a evidência da situação. Fui ler a entrevista e gostei das questões levantadas, da sobriedade e da ousadia das respostas.
Transcrevo o que se diz a dado passo, a propósito da qualidade das leis portuguesas.

P. - São mal feitas à partida?
R. - Sai logo coxa do legislador. E quando chega ao Parlamento perde-se muita coisa. Perdem-se vírgulas ou põem-se vírgulas a mais e depois criam-se alçapões nas leis.
P. - Porquê?
R. - Eu tenho a minha ideia. Há erros tão crassos e há erros tão óbvios que não pode ser incompetência.
P. - Será o quê?
R. - Má-fé, não sei.

(Entrevista concedida a António Ribeiro Ferreira do Correio da Manhã e a Nuno Domingues do Rádio Clube)
A isto eu chamo uma bomba. O que aqui fica escrito é grave e, a ser verdade, explica muito do que de anormal se passa na justiça. Estou certo que os nossos legisladores ficaram indignados e que nos próximos dias reagirão.
Ou, pensando bem, talvez não; talvez sigam o velho ditado português, talvez optem por não mexer mais... por causa do cheiro.














Imagem surripiada em  http://1.bp.blogspot.com/

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