Korda à tarde, Adriana Miki à noite


Sexta-feira: ao fim da tarde Korda e fotografia, à noite Adriana Miki e jazz.

Na Cordoaria, em Lisboa, está patente uma mostra de Alberto Korda, o fotógrafo cubano que acompanhou de perto as principais figuras políticas do seu país no pós-revolução. Ficou célebre devido à fotografia que fez de Che Guevara, que ainda hoje é a mais reproduzida de sempre. Mas antes da vitória dos «Barbudos da Sierra Maestra», já Korda existia como fotógrafo, particularmente de moda. Foi esta a fase da carreira do artista de que mais gostei. Magníficas imagens de belas mulheres, sedutoras, ousadas mesmo, tendo em conta o tempo - meados dos anos cinquenta. Da fase que se seguiu à revolução proliferam as fardas, as paradas militares, os comícios, os heróis, e não gostei tanto - independentemente da qualidade técnica e estética, que não está em causa, soa a mais do mesmo.

Pertencendo a este período, gostei imenso de algumas fotos de crianças e outras tantas de mulheres, igualmente bonitas, mas mais recatadas que as primeiras, e algumas delas envergando também farda – ora, como é do conhecimento geral, o uniforme militar e um rosto bonito de mulher não ligam bem... Gostos.
Um documentário de meia hora, com uma entrevista ao fotógrafo falecido em 2001, passa em permanência no primeiro andar do edifício em ecrã gigante e ata muito bem as pontas que o visionamento das cerca de 200 fotografias no rés-do-chão pode suscitar. Dele registei a frase que Korda usava nas suas aulas de fotografia, frase essa extraída de O Principezinho de Saint-Exupéry: «Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.» Na exposição a que pude assistir senti muito desse essencial.

Quem puder e gostar não falte. A mostra bem justifica um passeio até aquela zona ribeirinha, até porque a entrada é grátis.


À noite, na Fundação Oriente, assisti a um inesperado, embora agradável, concerto de jazz, com uma voz feminina e quatro instrumentistas. Destaco a cantora, Adriana Miki, a fazer lembrar - pela tonalidade, clareza com que fazia sair as palavras e escolha criteriosa dos textos -, a tão precocemente desaparecida Elis Regina, e o saxofonista Desidério Lázaro, um jovem repleto de virtuosismo, que chegou a empolgar o público, apesar da noite gélida.
As sonoridades que nos chegaram durante uma hora e meia, eram claramente de um muito competente jazz bem swigado, como eu gosto, mas sem que as influências brasileiras dos músicos fossem enxotadas, já que aqui e ali espreitava a bossa nova e, mais raramente - particularmente na percussão -, o espírito do samba emergia. Não conhecia esta cantora, que agora lançou o seu primeiro disco e todos os temas que ouvi me soaram a originais. Como não estava à espera de ser surpreendido tão positivamente, parece-me que Adriana Miki, é um nome a ter em conta para estas bandas da estética musical.

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