JL - Entrevista

Aqui se deixa a curta entrevista, a propósito de Primavera Adiada, dada a Rita Silva Freire e impressa na última edição do Jornal de Letras.

"Carlos Ademar - A História como antidepressivo
Não é um romance policial, nem há um grande mistério por resolver. Desta feita, Carlos Ademar quis escrever um romance histórico. Sem nenhum pretexto criminoso. Primavera Adiada (Oficina do Livro, 292 pp) desenrola-se durante o Estado Novo, nomeadamente durante o período marcelista. «Quis dar a conhecer o Portugal de então, com as suas dificuldades e problemas: a censura, as lutas estudantis, os presos políticos, a Guerra Colonial..», conta o autor. Primavera Adiada é, também, a história de Marta, uma estudante de Evora, educada num meio extremamente conservador que, em 1968 vai para Lisboa, onde participa nas lutas estudantis e conhece os meios contestatários. Nascido em Vinhais, em 1960, Carlos Ademar licenciou-se em História e entrou para a Policia Judiciária onde, durante cerca de 20 anos, foi investigador criminal da Secção de Homicídios. Hoje é professor na Escola de Polícia Judiciária e autor de romances como O Caso da Rua Direita e Memórias de um Assassino Romímntico.

Jornal de Letras: Primavera Adiada decorre durante a Primavera Marcelista. O que lhe interessou neste período?
Carlos Ademar: Andamos deprimidos com a crise económica, achamos que somos o povo mais infeliz do mundo. Este romance quer contrariar essa ideia. Para tal, fala-nos de um Portugal em que as pessoas tinham razões para estar muito mais infelizes do que hoje: a Guerra Colonial, os presos políticos, a PIDE, a tortura, a pobreza extrema, o analfabetismo do povo português... Podemos ter muitos problemas, mas não se podem comparar com aquilo por que passámos há tão pouco tempo.

De que trata a história?
Marta é uma rapariga que nasce no seio de uma família ligada ao antigo regime. Aos 17 anos conhece Tomás, um estudante de Direito ligado aos meios estudantis lisboetas, com problemas com a polícia, que a vai fazer questionar todos os ensinamentos recebidos até então. Quando Tomás foge para França, para evitar ir para a guerra, Marta refaz a sua vida, indo para Lisboa, onde conhece outras pessoas, colecciona experiências e se casa. Até que se dá o 25 de Abril e Tomás volta transformado em político.

Ao contrário dos seus livros anteriores, este não é um romance policial. Porquê?
Quis afastar-me e experimentar outro registo. Mas também há um crime. A meio do livro um líder estudantil aparece morto nas traseiras da Faculdade de Letras. Foi assassinado com um tiro. Por isso também há um bocadinho dessa componente policial. Mas é verdade que, comparada com a dos meus livros anteriores, está bastante reduzida. Diverti-me imenso a fazer este livro. Gosto muito da componentc histórica. Aliás, tenho outro projecto, mas está adiado por falta de tempo: escrever sobre uma comunidade lésbica que existia em Portugal durante a 1 República e o princípio do Estado Novo.

Então o que está a escrever agora?
Estou a pensar escrever um policial social, à semelhança de Estranha Forma de Vida, em que denunciei o problema do crime organizado, e a dificuldade que o sistema judicial tem em o combater. Agora quero escrever sobre as comunidades negras dos bairros à volta de Lisboa. Ainda não sei o que vai dar. Se não resultar, é um projecto a abater.

RITA SILVA FREIRE"

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