O Exótico Hotel Marigold

O visionamento em antestreia foi hoje à noite, no Centro Comercial Amoreiras, sala VIP 2. Parti para ele como quem vai disposto a abandonar o filme ao fim de 5 minutos, porque todas as suspeitas eram legítimas. Por outras palavras, entrei como quem está de passagem e fiquei guardando marcas evidentes e boas do que parecia uma experiência cinéfila falhada. A história é estranha, ou talvez não: os ingleses, fartos dos idosos, enviam-nos para a Índia, para o dito Exótico Hotel Marigold. Ali, podiam viver mais confortáveis com as reformas e, o mais importante, ficavam longe dos filhos, noras e genros... um alívio para estes. Cada um dos idosos tinha as suas razões para embarcar e o contacto com aquela civilização acabou por fazer renascer quem estava já condenado a esperar pela morte. É nesta interacção com aquelas paisagens, cores, cheiros e gentes, quase todas humildes, de uma humildade que não julgavam possível, que se reencontram com os outros e com eles.
Nenhuma obra artística merece o nome de obra artística se não puxar pelas emoções de quem a vê e esta puxa, e de que forma... O que se passou naquelas quase duas horas foi um turbilhão de emoções cruzadas, porque o drama alterna com a comédia, qualquer uma delas atingindo níveis pouco frequentes. Não há cedência a facilitismos. Diálogos, história e as magníficas interpretações, tudo assenta numa coerência inteligente e resistente a qualquer prova. Parece que o filme só estreia daqui a umas semanas, mas se puderem não o percam. Voaram aquelas duas horas. Guardo muito boas imagens, expressões faciais, olhares e diálogos daquele filme, mas termino com uma frase que muito dá que pensar. A frase foi proferida por um destes velhos ingleses, que regressou à Índia 40 anos depois para reencontrar o amor da sua vida e, referindo-se ao povo mais humilde disse, tentando justificar os sorrisos contagiantes que via nas ruas, sorrisos nascidos em quem, à luz da visão ocidental, poucas razões tinha para sorrir: «Eles acham a vida um privilégio e não um direito».  Não percam.

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