Vítor Alves

Estava longe de pensar que no dia seguinte a colocar aqui um post sobre um capitão de Abril, tivesse de voltar a escrever sobre outro militar do MFA. E logo pelas piores razões: a sua morte. Falo, já se sabe, de Vítor Alves, que há uns tempos batalhava com um cancro que lhe minava os pulmões. Só estive com ele uma vez, foi num fim de tarde do último Verão. Acompanhei a Luísa Amaral e o José Luís Andrade a sua casa, em Oeiras. A casa que tantos oficiais conspiradores conheceram, devido às muitas e longas reuniões para a organização do MFA e de preparação do 25 de Abril.
Foi um homem débil fisicamente que nos abriu a porta. Não o reconheceria noutras circunstâncias. A doença já o atacava fortemente, a roupa ficava-lhe larga, os cabelos e os pelos da barba, que tanto o caracterizava, estavam em queda acentuada devido aos efeitos da quimioterapia. Como ele próprio se definia, era um tímido, mas sempre se mostrou afável e colaborante connosco enquanto o físico lho permitiu. Iniciávamos ali o trabalho que nos levará à produção de uma biografia deste incontornável militar de Abril. Falou-nos na sua falta de apetência pelos holofotes, mas disponibilizou-se para nos ajudar no que pudesse. Ficámos de regressar quando, ao fim de duas horas de envolvente conversa, nos despedimos dado ter informado que precisava de descansar.
Saí com a convicção pesarosa de que dificilmente resistiria para poder participar no lançamento formal da sua biografia, mas sempre pensei que teríamos oportunidade de voltar a estar juntos, e ouvi-lo contar com aquela serenidade muito sua e em primeira mão, os episódios em que participou, alguns de relevância fundamental para a História recente deste país.
Hoje à hora do almoço, fui surpreendido com a notícia da sua morte e foi como se um vazio instantâneo me assaltasse; como se me tivesse morrido alguém próximo. E só estive com ele uma vez. Mas a verdade é que o conhecia bem por tudo quanto tive de estudar para levar avante o trabalho a que me comprometi mas, mais importante do que isso, é o facto de me identificar completamente com o seu padrão humanista de pensamento, com a sua forma de ver o mundo e de interagir com os seus semelhantes.
Morreu um homem bom.

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