O Judeu e a caridade da Igreja Católica



  A 18 de Outubro de 1739, com 34 anos, morreu (porque foi assassinado), em Lisboa, no auto-de-fé levado a cabo pela Inquisição, António José da Silva, dramaturgo e escritor português, nascido no Brasil. Embora fosse judeu, teve de se afirmar como Cristão-Novo, devido à perseguição que a Igreja Católica fazia, na época, a todas as pessoas da religião judaica. Apesar da idade com que morreu, foi o maior dramaturgo do seu tempo, mas a sua coragem, teimosia e rebeldia; a sua incapacidade de conter o verbo, mesmo face ao martelo pesado da lei injusta, porque sectária e, acima de tudo, a sociedade sectária, o fundamentalismo da Igreja Católica, então todo-poderosa, levou a que a sua vida fosse, infelizmente, tão breve. 
Ao longo do tempo, têm-se procurado aliviar a carga da Igreja, imputando responsabilidades à Inquisição. Só se fala da Inquisição como se a Igreja Católica nada tivesse a ver com ela. Percebo a ideia, mas não gosto e não aceito. É a Igreja Católica que está em causa, sempre. A Inquisição, que se procura isolar e responsabilizar pelos crimes cometidos, ao longo de séculos, contra a Humanidade, era apenas um «departamento» da Igreja. É preciso lembrar.
Pela sua obra, pela coragem que sempre demonstrou, e por ter sido mártir de um tempo negro, em que uma instituição que se afirma represente de Deus na Terra, torturava e matava horrivelmente quem se lhe opusesse, ou apenas não cumprisse escrupulosamente os seus ditames, a memória de António José da Silva, o Judeu, merece uma maior atenção da sociedade atual, talvez até um romance, quem sabe...   

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