Estou
na sala da minha casa a ouvir uma coletânea antiga de jazz e, de repente, surge
Billie Holiday, a Lady Day, a cantar «Blue Moon» como só ela o podia fazer. Subitamente
lembrei-me da tarde de ontem, na Sala 2 do Monumental, sessão das 16H30, quatro
pessoas no «escurinho do cinema» (tão bom!) para verem o último do Woody Allen:
Blue Jasmine. De há muitos anos sou um incondicional admirador do realizador e dos
primeiros a concordar com quem disse que por muito mau que seja um seu filme,
estará sempre dentro dos 5% do melhor que se faz na América. Este é um belo
filme, talvez dos mais interessantes dos últimos anos deste grande
representante da 7ª Arte. Aliás, sendo a obra de Allen inconfundível, pelas
marcas pessoais que o artista lhe empresta, diria que este Blue Jasmine foge um
tanto ao universo woodyalleano (acabei de inventar). Só a espaços, e de forma
mais subtil, se notam as marcas da comédia que o caracteriza. É um drama,
arrisco, o que vindo de quem vem é de registar. A principal personagem,
Jasmine, precisamente, como de resto as restantes personagens como maior
visibilidade, estão muito bem enquadradas, como seria de esperar, em termos
psicológicos. Mas a Jasmine, interpretada por uma brilhante Cate Blanchett,
está magnífica na mulher perturbada, que vive em conflito interno permanente,
entre aquilo que foi e o que é, e o que fez e muito contribuiu para a sua tão precária
situação. Pela brilhante interpretação da protagonista, muito me admiraria se
na noite da atribuição dos Óscares, Cate Blanchett
não estivesse integrada no grupo restrito de atrizes que ansiosamente aguardam
ouvir o seu nome para subirem ao palco. Grande filme e por isso a não perder.
Billie
Holiday, «Blue Moon» e o último filme de Woody Allen?…, vejam que depois entendem.