Zeca Afonso - Ao Vivo no Coliseu 1983
Há coisas que convém ter sempre à mão. Eu
era um jovem chegado há pouco aos vinte, mas já tinha um enorme respeito por
este senhor, pela sua obra artística e contributo na luta contra a ditadura.
Por tudo isso, mas também pela sensação de que não teria muitas outras
oportunidades para o ver ao vivo, fiz questão de marcar presença no Coliseu. No
entanto, havia muitos a pensar como eu e os lugares não chegaram, para grande
pena minha.
Nos dias seguintes desabafei com um amigo,
mas a reacção que me chegou não me conformou, bem pelo contrário, já que ouvi
algo como: «Ele também já não canta nada de jeito...». Era e é um bom amigo,
mas com pouca sensibilidade musical e histórica. Eu sei o que perdi, esse meu
amigo nunca o saberá. É assim a vida.
Em Fevereiro de 1987 viria a sua morte e o
funeral em Setúbal, onde eu fazia questão de estar presente, sacrificando um dia
de trabalho e de salário. Mas uma inesperada avaria no meu carro
impossibilitou-me de estar presente naquela que foi uma enorme manifestação
popular de reconhecimento ao grande artista e cidadão José Afonso. E, sem
querer ser lamechas, direi que aquele dia foi por mim vivido de uma forma
diferente, triste; tinha a consciência de que Portugal perdia um dos seus
verdadeiramente grandes e eu não estava presente.
Duas despedidas ligadas a Zeca a que
faltei e que, irremediavelmente, lamentarei para sempre.