Canto Livre na era da globalização



Hoje à tarde, o anfiteatro do Museu do Neo Realismo encheu. Velhas glórias da canção de intervenção ameaçavam atacar de novo e eu, curioso, fui ver.

Já falam mais do que cantam, mas até o falar, as histórias que contam, encantam, tal como as canções, as poucas canções, que atravessaram o éter naquelas 2 horas, que foi quanto durou a sessão.
Nomes que fazem parte da história da música e até da política, porque, e isto já não desta época, tempos houve neste país em que uma e outra estavam irmanados. Manuel Freire, Afonso Dias (antigo deputado da UDP), Tino Flores, Paulo Lobo Antunes encheram o palco, toda a sala, todo o tempo, que voou.
Não se ouviu a Pedra Filosofal, mas falou-se dela; assim como se falou do ZipZip, da PIDE, do Zeca, da guerra, da França como terra de refugio e como centro produtor e difusor de cultura. Cantou-se o Corpo Ranascido Canção, Toco-te e Respiras... para logo de seguida se cantar com a mesma alegria Tous Les Garçons e Les Filles.., boleros vários, música italiana, americana... Foi pena o Chico Fanhais não poder ter estado presente, como previsto. «Está em França», disse um para outro responder, «É agora o presidente da Associação José Afonso», dando um certo ar de responsabilidade institucional pelo cargo, para logo de seguida ouvir: «lá arranjou tacho, foi o que foi». Gargalhada geral, claro. A dada altura Tino Flores demorou-se um pouco mais na afinação da viola e a crítica ideológica não tardou vinda de Manuel Freire: «Esta mania pequeno-burguesa da afinação…»
Tinha saudades disto que nunca conheci. Ver esta gente agora muito mais solta falar e cantar estas coisas de outros tempos, falando sem rancores, perdoando, quiçá para serem perdoados, é bonito, foi bonito. O tempo voou.

Mensagens populares deste blogue

Fortaleza Real de São Filipe, Cabo Verde, Património Histórico da Humanidade

Chamateia de Luís Alberto Bettencourt