República da Solidão

Ontem à tarde o Terreiro do Paço – gosto de lhe chamar assim – estava cheio de republicanos felizes. Junto ao Cais das Colunas, numa nesga de areia suja, dezenas de pombos pousavam e levantavam, sincronizados com o vai e vem da ondulação. Aproximou-se uma senhora na casa dos 70, 75 anos, sorriso tímido, roupa domingueira, batom e mala de mão.

- São pombos-correios? – perguntou.
- Não sei… nada percebo de pombos, mas acho que não.
- O meu marido tinha muitos. Passava horas de volta deles. Depois morreu. Foi o tabaco que o matou. Adorava fumar. Deixou-me sozinha por causa do tabaco… mas faz-me tanta falta.
E como chegou seguiu, desaparecendo por entre as gentes.

Esta história não é anti-tabagista, é anti-solidão.

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