Nobel da Paz de 2012 e a União Europeia
Com a relatividade que a expressão necessariamente arrasta,
digo que talvez nunca um Nobel da Paz tenha sido tão bem entregue. A CEE,
actual União Europeia, representa um enorme avanço civilizacional.
Unir pacificamente povos que ao longo de séculos, os poucos contactos
que tiveram ocorreram no campo de batalha, ao som do rufar dos tambores e do troar
dos canhões, é um acontecimento sem comparação na História do Homem. Talvez a sua criação só tenha sido possível após uma catástrofe brutal
para o mundo e principalmente para a Europa, a II Guerra Mundial. Infelizmente,
foi necessário que o grau de destruição
atingisse níveis inauditos para que algo de novo e positivo
nascesse. Mas nasceu, alimentando a esperança de que daí em diante seria
impossível a repetição do holocausto. Nasceu também a esperança da melhoria da
qualidade de vida do povo europeu, que se foi concretizando. Mais tarde deu-se a
abertura de fronteiras, a moeda única (a unificação alemã) e, finalmente, a
crise.
Comecei por
escrever que foi um Nobel bem entregue. Fi-lo porque estou convicto que o
Comité Nobel não pretendeu homenagear os actuais dirigentes da União Europeia,
antes pelo contrário, pretendeu dar-lhes uma bofetada com luva
branca, fazendo-lhes crer que há muito deviam tentar recuperar os trilhos de boa vontade desbravados pelos criadores
deste projecto único no mundo. Não o fazendo, ficarão para a História como
os coveiros daquilo que Lula da Silva classificou como verdadeiro
património mundial.