léo ferré - avec le temps


 
Quando dei por ele estava já na fase descendente da vida e morreu pouco depois, velho com mais de 80 anos. Conheci mais dele depois da morte do que em vida, mas sempre admirei a sua postura algo anárquica de estar - a única possível para um verdadeiro artista.
Era o tempo em que a vida das canções era enorme face ao que é hoje. As regras do mercado tomaram conta dos Estados, mas já antes haviam tomado conta desse aparentemente anti-negócio, que é o que resulta da criatividade de alguém. Hoje um sucesso musical com seis meses é jurássico; já ninguém se lembra dele. E se passa na rádio, dá a ideia que é coisa velha como quem teve a triste ideia de o passar.
Era também o tempo em que havia tempo para amar os artistas, hoje vive-se de paixões - efémeras como só elas. Não sei se algum dos autores dos maiores sucessos musicais de hoje será recordado alguns anos após a sua morte. Francamente não sei e se calhar alguns até o mereciam, mas a voragem com que se vive não permite o tempo necessário para a criação do mito, que tanta falta faz ao imaginário das gerações e dos povos, porque são as suas referências. Hoje até o mito é como a pastilha elástica, de consumo imediato, usar e deitar fora. Podem até chamar-lhe mito, mas nunca chega a ser bem um mito.
Quando comecei a ter consciência das coisas, tive tempo para amar os artistas, mesmo os que estavam em final de carreira e até de vida. Os jovens de hoje com quinze anos podem dizer o mesmo? Pergunta parva esta. E quem perde? Os artistas certamente, mas também toda uma sociedade sem guias, de homens perdidos na escuridão que somos todos nós em nome do... como se chama? Mercado?

PS: estou pessimista para o jogo do Sporting amanhã, é o que é.

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