A Laurentina perdeu o trono de rainha
Aquando da descolonização, os chamados retornados, os oriundos de Moçambique, foram os responsáveis pelo nascimento de um mito: Laurentina. A forma como falavam da cerveja, com a paixão de quem fala da mais bela das mulheres, talvez associado ao nome de mulher que é o dela, contribuíram para que em mim, que ainda não bebia cerveja mas já tinha as hormonas aos saltos - e como saltavam - o nome Laurentina passasse a ser fruto de desejo mitigado.
As primeiras vezes que vim a Moçambique, a Laurentina satisfez plenamente esse desejo e vivemos belos momentos. Mas eis senão quando, e há sempre uma primeira vez, meteu-se pelo meio uma intrusa, com origens sul-africanas, com um nome nada sugestivo: 2M. Uma verdadeira infidelidade para com a velha amante dos meus sonhos de adolescente. Mas então, a Laurentina tinha ido vadiar e não estava disponível e quando a besta que é o apetite voraz se solta, não se compadece com fidelidades e vai de estabelecer contacto com a intrusa. Ainda olhei para ela com desdém, como que a acusá-la de chegar de novo para ocupar um lugar que não lhe pertencia; ameacei mesmo hesitar se lhe pegava ou não, fiz-me difícil. Mas as cervejas, quando querem, têm formas de sedução irresistíveis. Usou de todas as suas manhas, manhas de cerveja bem fresca, e pôs-se, lasciva, a deixar escorrer pequenas gotículas de água pelo vidro embaciado, deixando-me a engolir em seco. Não sou perfeito, longe disso e traí a Laurentina e o pior de tudo, o que faz de mim um verdadeiro ingrato, é que gostei.
Voltarei sempre à Laurentina, como quem volta a um velho amor, para recordar belas emoções, tempos idos e será bom, mas a minha paixão é a 2M.