A Portuguesa na pré-primária de Maputo ou a mangueira da esperança

De frente da minha janela está uma enorme mangueira, cujos ramos mais delgados quase tocam a parede do hotel, que me impede a visibilidade das construções mais próximas. Para a esquerda e para a direita a linha do horizonte perde-se no casario mais longínquo, mas imediatamente à minha frente, só o verde da árvore imensa.
Hoje é dia de trabalho no hotel e bem cedo, apenas os cantares das crianças me iam chegando nem sempre afinados, mas enérgicos e alegres. Sem que nada o fizesse prever, passo a ouvir algo muito familiar: A Portuguesa, o hino nacional português desde a implantação da República. A que propósito, numa escola infantil moçambicana, se canta o hino português? Incluído, de resto, num repertório vastíssimo, aparentemente infindável, onde já antes ouvira canções de Natal - «A Todos Um Bom Natal» (nem aqui escapo...) - e outras infantis, mais ou menos conhecidas. Achei curioso e digno de registo. Ainda pensei que se tratasse de uma escola portuguesa. Perguntei às empregadas que faziam a limpeza dos quartos. É moçambicana, disseram. Foi um bom tónico para o início de mais um dia em Maputo.
Por detrás da mangueira germina um futuro de entendimento entre dois povos irmãos, com quinhentos anos de história comum e que só as tiranias colocaram de costas voltadas durante algum tempo. À sombra da mangueira, constrói-se um futuro saudável, sem peias mentais, amarras ou preconceitos. Acredito que sim - esse é o caminho.





                                                                                
   

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